Por uma nova visão de mundo... além das estreitas e ingênuas postulações materialistas
Na Edição nº 100 da Revista Superinteressante (Jan. 1996) há uma matéria intitulada “seu cérebro: eis o que você é” cuja introdução segue nas seguintes palavras:
Na Edição nº 100 da Revista Superinteressante (Jan. 1996) há uma matéria intitulada “seu cérebro: eis o que você é” cuja introdução segue nas seguintes palavras:
“Suas
recordações de 1995 e seus planos para 1996, seus pensamentos mais lógicos e
seus sonhos mais absurdos, seu talento para certas coisas e sua total
inabilidade para outras, suas paixões, até seu jeito de falar e caminhar, tudo
é pura química. São apenas substâncias diferentes que saltam de uma célula
cerebral para outra, provocando correntes de eletricidade. Agora os cientistas
começam a entender como essas mensageiras nervosas moldam a personalidade”.
Embora muitos de nós possamos ficar desconfortáveis
com essa declaração, o fato é que ela (hoje e já há muito tempo) corresponde ao
entendimento predominante na comunidade científica. Esse tipo de pensar reduz a
mente àquilo que o cérebro faz. Em outras palavras, você é o seu cérebro. A
morte do seu cérebro implica no seu fim. Suas emoções, o amor por seus pais ou
filhos, seus pesares, sua compaixão, seu livre-arbítrio, seus pensamentos, sua
percepção e sentido de identidade, são todos produzidos por (ou de alguma forma
idênticos a) bilhões de células neurais ligadas em redes. O fato de você pensar
que esses estados mentais “são seus” é uma grande ilusão, pois eles são do seu
cérebro. Aliás, 'você' é uma ilusão;
eis que objetivamente não existe nenhum “Eu”; é tudo o seu cérebro.
Podemos dizer
que a hipótese de a mente ser um subproduto da (ou idêntica a) atividade
cerebral é um dos establishments da
ciência contemporânea. Essa conclusão está hoje fortemente arraigada entre os
cientistas que ela é tratada entre seus pares e passada para o público leigo
como ponto líquido e certo, de modo que até mesmo você, talvez um
espiritualista, é pego por vezes dizendo - sem qualquer desprazer - frases do
tipo “minha cabeça não está conseguindo
armazenar muitas coisas hoje” ou “meu
cérebro conhece/aprende fazer algo”. Elocuções assim apenas refletem o
quanto o materialismo está entranhado na cultura popular e aceitamos ele como
verdade, sem muita reflexão, inclusive cientistas (e até mesmo filósofos, o que
pra mim é assombroso!).
Numa série de pequenos resumos começarei a analisar a
consistência lógica e empírica do materialismo sobre as suas mais
diversificadas facetas e implicações na vida dos seres humanos e do nosso
planeta. A meta primordial é nos fazer refletir sobre as questões mais
fundamentais da ontologia: “o que nós
somos? De onde viemos? Existe propósito na vida? Existe propósito no Universo?
A destruição do meu corpo significa o meu fim?”
Você pode estar se perguntando agora: por que o materialismo? A resposta é simples. Ele
é a worldview que abraçamos há muito
tempo. Nós somos diariamente bombardeados pelas mais variadas mensagens que nos
sugerem o que é ou não possível, o que devemos ou não acreditar, o que é
importante e significativo ou que é supérfluo e irrelevante. A maior parte das
pessoas não tem tempo, não quer, ou não é capaz de refletir, ou então,
satisfaz-se com argumentos de “autoridades”, consequentemente, fica à deriva
num oceano de informações ou no meio do fogo cruzado de informações que muitas
vezes se contradizem. Isso é lastimável, porque o que define nossas vidas, o
modo como a conduziremos e aquilo que iremos explicitamente professar e
influenciar outras pessoas depende do que nós acreditamos. Quando se trata de
uma visão de mundo socialmente
estabelecida (como o materialismo), o bombardeio ideológico é muito mais
intenso. Ele passa a ser sistemático e institucionalizado, ramificando-se para
diversos ethos de um povo, seja na
ciência, economia, política, educação e nas demais relações sociais.
Mesmo aquelas pessoas que acreditam (ou pensam
acreditar) numa vida após a morte ou na realidade de um Deus vivem uma existência contraditória,
aderindo, ainda que de modo inconsciente, a diversos preceitos materialistas.
Em alguns momentos essas contradições entre crença (no transcendente) e
comportamento (materialista) são percebidas, mas todos nós, não raro, lançamos
mãos de eficientes mecanismos de defesa psicológicos em prol de nosso
equilíbrio e bem estar.
Por exemplo, do ponto de vista de uma moral objetiva,
‘toda vida é importante’. Sob a perspectiva de pessoas religiosas, acredito que
essa premissa deveria – em tese – ser ainda mais contundente. No entanto, quase
todas as pessoas patrocinam a indústria
da carne a qual conduz à escravidão, maus tratos, intenso sofrimento e
assassinato anual de milhões de vidas não-humanas na face da Terra. Vários
construtos psicológicos irracionais ou dogmáticos são lançados aqui para
justificar ou camuflar a contradição, tais quais “Deus criou os animais para servir ao homem”; “estou ciente de minha incoerência, mas sou fraco e não consigo desistir
de meu comportamento carnívoro”; “Os
animais são abatidos de forma ‘humanitária’ (o que quer que seja o significado disso!)”; “a vida do homem é mais
importante" (sob a ótica de quem? Do homem ou de Deus?); "a
relação entre espécies de presa e predador é uma lei da natureza" (a
qual você obedientemente segue, correto?), sem falar na estratégia psicológica
mais poderosa: simplesmente ignorar a incongruência e evitar pensar nela.
Num outro exemplo, algumas pessoas professam ser
espiritualizadas, contudo, possuem um tremendo pavor da morte. Isso não deveria
ser assim (pelo menos não num grau elevado), se a crença numa vida futura
realmente estivesse imune de questionamentos pessoais. O fato é que quase todos
nós, mesmo religiosos bem convictos, somos pegos em dúvida sobre a continuidade
de nossa existência além da morte corporal. Não confessar isso muitas vezes é
um exercício contínuo de autoafirmação ou a atuação de um mecanismo de defesa
de supressão, afinal, todos nós evitamos viver em contradição entre
aquilo que professamos de forma explícita com o que implicitamente adotamos ou
sentimos no cotidiano.
Podemos acrescentar ainda, e com especial relevância,
a cultura hedonista, o consumismo desenfreado e a preocupação por status, todos estimulados por nosso
sistema capitalista ou de economia de mercado, e os quais nos levam a acreditar
que o prazer é o bem supremo; que a felicidade está na posse de bens materiais;
e que o sucesso é sinônimo de acúmulo de riqueza e prestígio. Agora, esses
conceitos, de bases materialistas e que no final das contas nos conduzem a
sentimentos e comportamentos individual e socialmente destrutivos, estão em
direta rota de colisão com princípios trancendentais ou com a fé religiosa de
várias pessoas. A saída muitas vezes é compartimentalizar pensamentos e
atitudes. De uma maneira grosseira isso seria equivalente a desejar
ardentemente a “matéria”, mas apenas nos dias de semana, lançar-se no prazer
aos sábados e orar a Deus no domingo pedindo perdão aos pecados da semana
(afinal, Ele sempre perdoa, não é mesmo?).
Não é à toa que o filósofo da Claremont Graduate University, David Ray Griffin (1997)[1] uma vez expressou
acreditar que
“[...]a raça humana agora
enfrenta o maior desafio da sua história. Se ela continuar em seu curso atual,
a miséria generalizada e a morte de proporções sem precedentes são uma certeza
dentro do próximo século ou seguinte. A aniquilação da vida humana, e também de
milhões de outras espécies, é provável. Isto se dá por causa das tecnologias
poluentes, da mania de crescimento econômico, do crescimento populacional fora
de controle, do apartheid global entre países ricos e pobres, do rápido
esgotamento de recursos não renováveis, e da proliferação de armas nucleares
combinada com um estado de anarquia internacional que torna a guerra inevitável
e impossível a adoção de medidas suficientes para reprimir a destruição
ecológica global. O que é necessário é a criação de uma nova ordem
internacional que possa resolver os problemas acima rápido o suficiente. Haverá
tremendos obstáculos, especialmente nos países ricos e poderosos. O rico teria
que desistir de seu ‘direito’ de permanecer muito mais rico do que os pobres. O
poderoso teria que desistir de seu ‘direito’ de intervir militarmente, quer
aberta ou veladamente, nos assuntos do fraco. Todos teriam que desistir da
ideologia de dominação da natureza para benefício humano de curto prazo em
favor de uma harmonia sustentável.
O que parece claro, porém,
é que uma transição na ordem mundial, se ela ocorrer, terá de ser acompanhada
por uma mudança de visão de mundo, uma que conduziria a um novo senso de
aventura, uma que substituísse a aventura moderna de crescimento econômico sem
fim baseado na subjugação tecnológica da natureza e na subjugação militar e/ou
econômica dos povos mais fracos. Apenas, estou convencido, se começarmos a ver
a vida humana como uma aventura essencialmente espiritual, uma jornada
aventurosa que continua para além desta vida, nós teremos a chance de nos
tornar suficientemente livres das modernas motivações destrutivas a fim de
alcançar uma transição para uma ordem global sustentável”.
Pois bem, nos resumos que serão desenvolvidos neste
espaço, mostrarei todas as inconsistências do materialismo, sinalizando tratar-se de uma cosmovisão
completamente inadequada para a raça humana, seja do ponto de vista de nossa
subsistência harmônica e salutar neste planeta ou mesmo de uma perspectiva
puramente intelectual. Sim! O materialismo muitas vezes é simplesmente
ininteligível, na maior parte do tempo contraditório e nunca, enquanto modelo
científico para definir “o que realmente
somos” (‘máquinas feitas de carne?’;
‘seres espirituais numa jornada de
crescimento pessoal?’, etc.), chegou perto de uma resposta, embora
secularmente a fé de que não somos nada mais do que robôs biológicos com uma
existência sem sentido tenha se solidificado como a versão ortodoxa da ciência.
[1] Parapsychology, Philosophy and Spirituality: a postmodern exploration.
Ed. State University of New York.